Embora alguns até tenham composto odes em memória desse acessório de louça que certamente já molhou mais periquitas do que George Clooney e Brad Pitt juntos seriam capazes se pudessem viver por um milhão de anos, é um mistério o que levou os Bidês a serem gradativamente dizimados dos banheiros, sanitários, toaletes e Walter Clarks, popularmente conhecidos como W. C.
Os poucos Bidês que restaram vivem a lamentar sua má sorte. A exceção é um Bidê da cor laranja. Extremamente grato por ainda estar vivo, Bidê passa os dias a ver programas de humor na televisão ao lado de sua eterna companheira, a Privada.
Privada, por sua vez, é um caso à parte. Sem muita inteligência – ainda mais porque vivem enchendo sua cabeça de merda – tem uma percepção muito limitada, a ponto de qualquer dono de padaria entender piadas de português com muito mais facilidade que ela.
E lá estavam os dois, Bidê e Privada, de frente pra tevê só pra variar um pouquinho. Bidê esguichava seu chuveirinho de tanto dar risada, enquanto a Privada, nem com o poder de dez descargas, conseguia entender o que se passava na telinha.
A situação se estendeu e se repetiu por horas e mais horas: gargalhadas do Bidê, interrogações da Privada, e centenas de litros de água desperdiçados sem misericórdia.
Corroendo-se por dentro – afinal, desejava ardentemente compartilhar da alegria de Bidê – Privada não agüentou mais a angústia da ignorância humorística e confrontou o companheiro:
– Mas que raio de programa é este que te faz rir a valer, ora pois?
Ao Bidê só coube responder:
– São comédias da vida, Privada.
#MarceloGavini 